Os
ponteiros dos relógios do mundo todo só giram porque nós os obrigamos. Assim como o Sol não passa pelo céu, o tempo não está passando pelos relógios,
nem por nós. O tempo não nos mata.
Não podemos dizer que o tempo está em
movimento, pois o tempo não está aqui nem ali. Tempo
não se obtém, não se possui. Não é possível segurá-lo ou ainda imaginar que ele
está à frente, à toda velocidade. Não se deve antecipar sua passagem nem temer perdê-lo
para sempre. Tempo não se perde, não se acha. Para achá-lo, ele precisaria
estar. Para perdê-lo, ele precisaria ser. Perdemos apenas a nós mesmos, porque somos
e estamos. Nós é que passamos, sem jamais conseguirmos observar o que
está à volta e à frente ou o que fica pra trás, por não sabermos ou não podermos
olhar, talvez por não querermos. É certo que não conseguimos. Nessa nossa
multidão ninguém vê o que vai embora. Estão todos com os olhos dirigidos a um ponto cego e escuro, que se aproxima tristemente rápido. O tempo não corre. Está
parado. Nós é que corremos. Cada vez mais rápido, sem carregarmos nada
além de imagens, sem termos fôlego para crescer como as montanhas
crescem. Carregamos linguagem, que também perde fôlego. À nossa imagem e
semelhança, inventamos qualquer frase, que, por natureza, vence períodos para dirigir-se sempre a um ponto final.