terça-feira, 25 de agosto de 2015

Devo ser sincero logo de início

Em meados de 2009, eu havia acabado de escrever um romance policial  que guardo na gaveta pois sei demais de seus defeitos. Foi depois de rejeitar esse primeiro livro que me dei conta de que eu havia mudado meu jeito de pensar. E de escrever também, é claro. Tive a ideia para uma nova estória. No antigo Espaço Aono da Av. Brigadeiro Luís Antônio, escrevi as primeiras palavras do que depois se tornou o prólogo de O deserto dos meus olhos. Esse lugar era um spa em que minha mãe costumava ocupar uma grande sala para as reuniões semanais do seu grupo de discussão do livro Um Curso em Milagres. Eu a acompanhava sempre, pois prezava pelo silêncio de uma das salas de espera do local. O único barulho eventual era o telefone seguido da voz da Kelma, a secretária que trabalhava na sala ao lado, e a única rara interrupção pessoal era a da Val, a faxineira que gostava de vir me dar beijos e dizer palavras de encorajamento à escrita; ela sabia que eu escrevia ficção, eu lhe contara depois de ela ter questionado se eu não me sentia sozinho ali, escrevendo.
"Jovem da sua idade não pode ficar parado desse jeito não", ela disse uma vez e eu anotei suas palavras. "Velho é que fica parado querendo morrer. Vê se anda de lá pra cá, bebe uma água."
Algumas pessoas veem a solidão como uma prisão, parecia à Val que escrever era um agravante da solidão, um atestado. Como se meu silêncio com o papel só pudesse significar tristeza. Eu lhe dizia que era o contrário. “Eu gosto bastante de escrever”, devo ter dito algo simples assim, não lembro. A prisão, afinal, está nos olhos, que vez ou outra nos fazem acreditar que só podemos ver aquilo que de fato nos cerca. É a prisão da mente sem imaginação. O problema parece ser então outro: quem encontramos em nós quando estamos sozinhos? Há quem se desespere, há quem se acalme, há quem enlouqueça.

O Arlequim, um dos personagens
de O Deserto dos Meus Olhos
Crescer em uma casa de psicólogas é garantia de ser exposto a algumas palavras especiais. Pode parecer simples agora, mas quando eu era pequeno as palavras inconsciente e ego causaram um impacto notável na forma como eu enxergava os meus amigos. Embora eu comemore efusivo todas as exposições que tive aos estudos de minha irmã e minha mãe, é claro que isso não se trata de um privilégio de casas de psicólogos. Tratava-se de um adiantamento de algumas verdades acessíveis a qualquer um que olhe para o humano. O que acontecia comigo é que minha mãe, além de psicoterapeuta, é também professora de Meditação Transcendental, da qual me tornei praticante desde os 5 anos. Por isso tive contato com uma ferramenta especial: conhecer-me enquanto eu ainda tinha pouco a descobrir em mim mesmo. Esse farol voltado para uma identidade em formação resultava, vejo agora, entre outras coisas, em uma benevolência prematura. Talvez o perdão já fosse ingênito em mim, mas diariamente aprendi a observar a falta de controle que as pessoas têm sobre os próprios atos. Eu podia chegar em casa irritado e triste por ser xingado por um menino mais velho, ou por ser chamado de raquítico por uma colega, mas logo ouvia de minha mãe os motivos que levam alguém a apontar os defeitos de outra pessoa. Eu voltava no dia seguinte preparado para perceber a fraqueza daqueles que desejavam me diminuir. O inconsciente e o ego por trás das ações não eram apenas duas palavras a mais no meu vocabulário.
Minha mãe fez ainda a maior contribuição para o meu despertar para as palavras, muito antes que eu pudesse pensar em escrever alguma coisa. Ela costumava anotar o que eu dizia sobre qualquer coisa  vida, morte, alma, espírito, deuses, paraíso, céu, sol e planetas. Ela garantia que eram frases bonitas, profundas. Fossem ou não frases boas, o maior valor daquele ato era mostrar a uma criança que toda ideia pode ser registrada, palavra por palavra. No dia seguinte, eu lia junto com ela o que eu havia falado, sem me lembrar como eu pensara naquilo. Era natural então, que eu logo passasse a prestar mais atenção na formação de cada pensamento, tornei-me um vigia das frases que surgiam na mente. Com minha mãe aprendi a pensar, porque aprendi a ver o meu pensamento desmontado em riscos de grafite ou tinta no papel.

Maharishi Mahesh Yogi e os Beatles. Ao fundo, o quadro que minha mãe
também tem em seu consultório; diante dele, aprendemos todos a meditar.
Hoje em dia eu mesmo empunho o lápis e a caneta que ela usava por mim. Prefiro escrever à mão toda primeira ideia. Quando tenho um rascunho longo, venho então para a frente do computador e trabalho em melhorias. Embora o alicerce do texto esteja todo lá, visível no rascunho, o resultado final normalmente esconde a estrutura original e apresenta um corpo inédito até para mim. Quando me surpreendo e mal enxergo a estrutura, é quando me dou por satisfeito. A mágica que enxergo na escrita, apreendi lendo. Mas a mágica que tento empreender ao escrever, descubro a cada dia, a cada palavra.


Cadernos dos últimos anos
Não só em homenagem à minha mãe escrevo, mas também ao meu avô materno, que amava sua escrivaninha  minha mãe me conta que ninguém podia mexer nela e ele lá se sentava religiosamente. É dito que seu maior sonho era viajar pelo mundo e enviar cartas contando sobre os países que visitava. Vejo sua escrivaninha como a passagem de ida e volta para qualquer lugar que quisesse imaginar. Se o dinheiro não podia levá-lo até esses lugares, talvez algumas palavras pudessem fazê-lo.
Tive a felicidade de conhecer Praga pessoalmente e garantir maior fidelidade à narrativa dos capítulos de O deserto dos meus olhos que se passam lá, mas o mais curioso é que, bem antes que eu pudesse imaginar que um dia viajaria à República Tcheca, as palavras que usei para transportar meus personagens anteciparam coisas que eu depois vivi ali. Escrevi detalhes impossíveis de se saber antes que eu visse Praga pessoalmente. Em 2010, por exemplo, imaginei a Igreja de Tyn com a porta lateral fechada e o interior em reforma, e encontrei essa mesma porta fechada para reforma em 2013. Escrevi sobre a Caverna Mágica no Monte Petrin e seu anfitrião excêntrico; anos depois o encontrei, por sorte, num momento fortuito, enquanto ele saía de sua toca, ainda de pijamas, avesso a falar com alguém. Tive de insistir por uma foto.


Reon Argondian e eu, em sua Caverna Mágica no Monte Petrin.

Durante a escrita de O deserto dos meus olhos, eu havia começado a assistir à série Cosmos, a original com Carl Sagan, dando vazão a uma paixão que eu tinha desde pequeno: o Universo. Era o tema de um dos livros que meu pai tirou de sua biblioteca particular para me dar, quando eu devia ter 12 ou 13 anos. Astronomia, de Joachim Herrmann. E eu adorava abri-lo na esperança de entender alguma coisa que estava escrita ali, querendo me tornar tão inteligente quanto o meu pai, que em mais de uma ocasião tentara me explicar a Teoria da Relatividade de Einstein. Pouco entendimento eu alcançava, tanto da teoria como do livro de Hermann, mas as imagens que a explicação de meu pai e o livro suscitavam me fascinavam. Com Carl Sagan eu sentia poder chegar bem perto de entender o que minha paixão até então apenas fantasiava, com ele conheci melhor o astrônomo Johannes Kepler e apreendi conceitos importantíssimos para a organização da minha percepção racional do mundo e, principalmente, do lugar do homem no Universo. Com ele me atentei à brevidade das existências, de modo semelhante ao que encontrei na Impermanência do budismo. São razões para eu voltar sempre às palavras, certo de que elas representam aquele refúgio capaz de alongar os instantes e preservar parte do que é provisório.


Nós somos como borboletas, que vibram por um dia e pensam que é para sempre.
Carl Sagan

Carl Sagan e seu primeiro filho
Foi de alguma forma aflorando minhas duas grandes paixões  o espírito da meditação e da psicologia de minha mãe e o universo da astronomia de meu pai –, que cheguei à ideia de levar meu protagonista não apenas a um templo budista, mas também até a casa de Kepler, em Praga. Se eu pudesse colocar na ficção aquilo que eu mais amasse, a escrita me levaria naturalmente à descoberta íntima e verossímil de um personagem. Ao descobri-lo, segui-o, apesar de ele não parecer falar da minha terra. Segui-o pois ele falava de suas paixões, temores e culpas. E é para isso que qualquer um escreve, para afastar o medo e iluminar o humano, à parte de fronteiras geográficas, aquele humano desterrado por não lembrar ao certo sua origem.

Ganesh, a encarnação corporal do Cosmos. Um dos
meus amuletos para a escrita, precioso presente de Larissa,
querida como um membro da minha família.


____________________________________


O Deserto dos Meus Olhos está à venda em www.leonidris.com . Também está disponível como livro digital, pela Amazon, e pode ser lido em tablets, celulares e computadores, além do eBook Kindle:

Ilustração da capa (Raven Moon) cedida
pelo artista canadense, Lance Weisser.
Acesse o blog do pintor aqui:
http://weisserwatercolours.com/


PRÓLOGO

Devo ser sincero logo de início, enquanto sua atenção ainda não me foi prometida, enquanto não posso traí-la. Nem tudo o que contarei nas próximas páginas aconteceu realmente comigo. As pessoas e os lugares que garantirei ter conhecido fazem parte de uma série de inventos que só se mostraram assim no dia em que dei cabo de cada uma das minhas companhias. As descobertas que guardo não me perturbam; aquecem-me, mantêm-me alerta. Há um limite para qualquer mente submetida ao que fui submetido, mas o único arquiteto daquilo que desaba sobre ti és tu mesmo, como ele me disse no fim de tudo. É preciso sobreviver às próprias mortes, ao sufocamento de si mesmo na névoa venenosa do caos e do desamparo, névoa que vemos partir do mundo e dos supostos perpetradores do nosso sofrimento, mas da qual só nos libertamos quando nos descobrimos seu único feitor. Só deixarás de temer tudo o que conheces quando conheceres tudo o que temes. E o temor, o medo, por sua vez, é correlato direto da culpa. Culpa do que se fez e do que não se fez, do que se pensa ter feito e do que se pensa ter deixado de fazer. Somos muito criativos quando a tarefa é nos culpar, seja um louco como eu ou não. Mas, por ora, não me delongarei quanto a essas diferenciações; só me explico quando temo ser julgado, e não creio que serei julgado tão cedo.
Estou longe do estado purificado dos monges budistas com quem pude conviver, mas me vejo limpo o suficiente para conseguir voltar a meditar diariamente. Para o louco, existe um momento em que a loucura deixa de ser corriqueira, e a sanidade, amedrontadora. Basta que ele viva o bastante. É certo que poucos puderam sobreviver a si próprios pelo tempo necessário para o despertar, e da maioria que o fez não se pode dizer que seja muito falante… ou paciente para lidar com o papel. Pois eu o serei. Contarei sobre todos os meus dias, sobre os lugares e as pessoas, sobre todas as inverdades que me levaram à sanidade.
Não faltaram indícios de que nada daquilo era real. Afora todas as esquisitices e improbabilidades, as súbitas disposições e indisposições, ainda havia o fato de que toda vez que essa minha Arcádia, suspensa sobre tudo, me provocava o medo da morte ou o medo da felicidade, eu estava destinado a abrir os olhos num imaginário distinto do anterior. Conforme acontecia, demorei a tomar ciência de que havia como escapar dos meus próprios mecanismos. Portanto, no princípio, ponto em que jamais me questionaria sobre a falta de continuidade do que ocorrera no dia anterior, pareceu-me muitíssimo natural abrir os olhos e me encontrar na Espanha do século dezenove, em meio a acontecimentos talvez históricos – digo talvez, pois desde minha libertação não tive tempo de ir a alguma biblioteca conferir os fatos…
É uma mentira, essa frase acima… Prometi ser sincero e não quebrarei a promessa nas primeiras páginas. Não só tive tempo disponível, como bem poderia fazê-lo agora, uma vez que escrevo estas palavras sentado a uma mesa da Biblioteca Estadual de Berlim. Eu poderia ir à procura do livro que me sanasse a dúvida, mas tenho urgência em falar-lhe. O que menos importa agora, tanto para mim quanto para você, é se Juan, Domingo, Francisco e Ramón existiram ou se eu realmente tive participação no destronamento da rainha Isabel II.
(Continua...)



Rascunhos


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Gelateria il Cantagalli

Dizem que a Itália é romântica. O Woody Allen, por exemplo, me prometeu que eu encontraria o amor na capital, e eu sempre acreditei no que ele me diz. Tive de sair de Arezzo na Toscana e me mudar para Roma por razões profissionais, mas eis que, na capital, senti como se eu estivesse no centro de São Paulo, ali perto do Arouche, e pior, durante alguma Virada Cultural. Gosto do evento, não me entenda mal. Estive na edição de 2013 e sobrevivi às facas e balas perdidas. Mas aqui encontrei o mesmo amontoado de pessoas andando de um lado para o outro como se em procissão. E também os numerosos vendedores de badulaques indesejáveis estão lá e aqui. Aqui na Itália, eles são os bravos imigrantes ilegais, que atravessaram o mar mediterrâneo e se jogaram com a cara e a coragem em becos e praças para vender bolsas, rosas quase murchas e uns trocinhos brilhantes com cara de geleca que voam bem alto de um jeito que seria até belo se, depois de voarem, voltassem para a nossa mão. Um dia, veja só, tentei chegar perto de uma fonte famosa pra jogar uma moedinha, mas tive que jogar de longe, porque os turistas se aglutinavam ao redor dela e dali não sairiam nem por um decreto do Papa. E isso é assim todo santo dia. Te garanto que eu consigo uma foto melhor nos chafarizes da Praça da República. O Criolo só acha que não existe amor em SP porque não veio pra cá. Se nas ruas daqui ao menos tocasse o mesmo repertório do palco Julio Prestes, Caetano Veloso e Fabio Jr. fariam as turistas lembrarem do amor e a Daniela Mercury tremularia as rachaduras do Coliseu, enquanto os novos fiéis do axé dançariam apertadinhos nos corredores em que o Russell Crowe afiara sua espada. Mesmo assim, porém, eu me apaixonei em Roma.
É claro que meus olhos iriam parar em alguém, uma hora ou outra. Isso acontece todo dia, como já me acontecia na linha vermelha do metro de SP, onde me apaixono por pernas de salto alto toda vez que subo as escadas. Eu tenho uma queda por paixões que me levam a lugar nenhum, principalmente aquelas em que a contraparte do negócio nem sequer sabe o meu nome. Mas com ela foi diferente. Foi na Gelateria il Cantagalli, uma sorveteria do lado da Fontana di Trevi. Ela trabalha lá. No primeiro dia, pedi que escolhesse o sorvete por mim. Tive só tempo de me apaixonar por seus olhos, verdes quase da cor do sorvete de menta.
(Continua...)

"Gelateria il Cantagalli" é um prelúdio do conto O Leão de Bronzeenviado a um
concurso em andamento
.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Diário de viagens que não voltam – Primeira nota

28 de setembro de 2013
Via Cipriano Menente, 16,
05018 - Orvieto TR, Itália
Horário: Aberto hoje
12:30 – 14:30, 19:30 – 22:30

Em Orvieto, num restaurante chamado La Palomba, havia ao lado da minha mesa um casal comandado por um diretor invisível. A mulher, uma asiática cujo rosto assimétrico e carrancudo carregava um tom muito avermelhado, parecia ter recebido instruções severas para fazer as piores caretas possíveis toda vez que mastigasse; o homem, ator competente, lançava sobre a mesa um ar de dominação, tinha o olhar cravado no movimento dos talheres da mulher, como se a conferir se eles eram usados da forma correta. Tal qual um cachorro ao pé da mesa, ele também observava o trajeto da comida levada do prato à boca da mulher. Os ombros dele eram largos, seu pescoço grosso e o cenho irreversivelmente franzido. Era um tipo caucasiano original da fábrica nórdica dos vikings modernos (vikings modernos, pelo dicionário Houaiss: indivíduo adestrado aos modos cavalheirescos da entressafra de homens-não-mais-tão-machistas-mas-ainda-avessos-a-algum-direito-da-mulher).
Eles dividiram um antepasto de berinjela à italiana, depois cada um teve seu espaguete ao pomodoro e, por último, uma carne com legumes (sim, eu fiquei prestando atenção em tudo o que eles comeram). Cada prato foi regado à vinho, o vinho da casa, que a garçonete garantiu ser soft. A asiática terminou de comer antes do viking moderno, que começou a dar sinais hostis...
O diretor que não estava ali queria tirar deles o retrato perfeito daquele tipo de relacionamento que, quando vemos na rua, desperta perguntas do tipo: o que essas pessoas conversam quando enfim abrem a boca? Por que estão juntas? O silêncio permanente no jantar e o estranho modo como ele a vigiava sem que ela, em momento algum, lhe dirigisse um mísero olhar, já tinha sido o suficiente para estranharmos o casal, mas ele foi além. Quando pareceu satisfeita, ela retirou o guardanapo do colo e se ajeitou melhor na cadeira. Ele, que não havia dado cabo da carne nem dos legumes, empurrou o próprio prato até deixá-lo à frente dela. Não disse coisa alguma e ficou olhando-a. Havia muita raiva ali, não me assustaria se ele ou ela se jogasse sobre a mesa, os braços estendidos até a jugular do outro.
Ele comunicou no silêncio tudo o que ela talvez entendesse melhor do que eu, pois ela se ajeitou na cadeira e acatou a ordem passada. Começou a partir a carne que restara no prato do marido, levando desinteressadamente cada garfada à boca. Seu rosto ficou ainda mais vermelho, talvez devido ao álcool, talvez irritada. Ela olhava para o nada entre a sua mesa e a minha. Foi quando notei seus olhos brilharem sutilmente, decerto lacrimejando, e decidi que era importante começar a anotar aquela cena toda.

O corpo dele inclinou-se um pouco sobre a mesa, os ombros precipitaram-se, uma mera postura capaz de reduzi-la ainda mais. A mulher não acumulou lágrimas o suficiente para que escorressem, a emoção estagnou-se e ela continuou a engolir a carne como se engolisse pedras.

Baixo relevo na fachada da Catedral de Orvieto

Follow my blog with Bloglovin

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Entre o Muro e a Imaginação

Tudo seria mais fácil se eu me interessasse por menos coisas, se eu tivesse um gosto limitado a gêneros específicos. Isso vale para a música, para o cinema e para a literatura. Estou sempre aberto a dar uma chance ao que escuto, ao que vejo e leio. A consequência disso é que gosto das fantasias de Rowling e da Cor da Magia de Terry Pratchettt tanto quanto gosto da desconstrução bíblica de Caim e das inverossímeis Intermitências da Morte. Amo a ficção histórica de Susanna Clarke e venero o ego implodido de Arturo Bandini em seu caminho a Los Angeles; as memórias biográficas de Hitch-22 me fascinam não menos que a detalhada biografia do Universo, de John Gribbin. Quem primeiro me fez chorar diante do papel foi o Casmurro de Machado, o último foi o sonhador Dominic Molise, no inverno mais frio de John Fante.





Quando entro numa livraria, a sensação é desesperadora. Toda e qualquer seção tem pelo menos cinco livros que eu gostaria de ler. Quando saio sem comprar nenhum, sinto que ignorei uma grande parcela de conhecimento imprescindível. Quando saio tendo comprado alguns, trago-os pra casa e eles têm de entrar imediatamente na fila de livros a serem lidos, posicionados sobre as pilhas que já acumulo há anos por falta de uma estante grande em que eu possa guardar todos devidamente. A quantidade que consigo ler por mês é menor do que a quantidade que adquiro nesse mesmo tempo. Seria uma compulsão saudável se o ano inteiro fosse feito de férias. Agravante da falta de tempo para ler é a minha necessidade de dedicar um tempo diário para a escrita, seja acadêmica ou ficcional. Contudo, recentemente, escrevendo um conto chamado Alfred e a Estante, descobri que o desespero que sinto ao entrar numa grande livraria diz respeito não à quantidade exorbitante de livros que ainda devo ler, mas à aparente ausência de vazios. Parece já existir ali tudo o que precisaria ser dito, além de réplicas e tréplicas dos milhares de livros que dialogam com o conteúdo anteriormente lido por seus autores. Com um pouco de suspensão do ego, qualquer um pode acabar acreditando que não há lacuna nas estantes. O vazio, porém, é onde a mente opera, uma ausência na estante é o que ventila a reflexão.


Jorge Luis Borges
Ao pisar numa Livraria Cultura como a do Conjunto Nacional, em São Paulo, rodeia a minha cabeça a mesma sensação angustiante que A Biblioteca de Babel de Borges me proporcionou. Avisto cada seção de estantes e imagino um mundo incongruente de argumentos distintos, regidos por individualidades autorais conflituosas. Uma multidão de músicos a tocarem partituras diferentes.
A sinfonia desorquestrada de dizeres pode enlouquecer quando inocentemente se imagina haver um meio de ouvir a todos, de ordená-los na memória e conduzi-los com a batuta que é o lápis. Pois é com ele que se harmoniza a gritaria das estantes, com ele que se esquece do vertiginoso infinito de vozes.
Muitos dão conta das duas tarefas, a de reger e a de compor dizeres. São os chamados polímatas; indivíduos que estudam ou que conhecem muitas ciências. Umberto Eco, em um debate com a escritora Susan Sontag, assumiu que essa era a sua maior ambição, tornar-se um polímata. É evidente que ele parece chegar muito próximo disso, assim como o próprio Borges.

Umberto Eco entre parte de sua coleção de mais de 50 mil livros
Borges, porém, venerava o conceito de infinito e via a poesia como mantenedora de uma distância fundamental entre os saberes concretos e os saberes da palavra imaginada pela arte. Contrário a isso, um polímata só é pleno em seus anseios ao entender o saber como finito, abarcável. A palavra polymathia teria sido usada por Heráclito para criticar a natureza superficial de se abraçar mais do que se pode alcançar. Semelhante foi a resposta de Sontag naquele debate com Eco: ela o lembrou que o polímata é quem se interessa por tudo e por nada mais. Um apaixonado pelas paisagens, cego por tudo que tenta enxergar ao mesmo tempo.

Esse nada mais é, para mim, o que me permite a inocência de compor longe da gritaria. É um vazio na estante, abrindo espaço para os sopros que precisam correr daqui pra lá.
Quando a estante está completa, o homem está preso nela.
Inspirado nisso, nasceu Alfred e a Estante. É um conto longo para o blog (pouco mais de 4 mil palavras), e por isso trago aqui apenas uma parte, que espero servir para despertar o desejo de continuarem a leitura:

__________________________

Olho, de M. C. Escher

Alfred e a Estante


Por muito tempo eu sonhei com uma estante grande o suficiente para guardar todos os livros que adquiri ao longo de mais de vinte anos de leitura e pesquisas acadêmicas. No auge da minha compulsão, quando havia tempo de sobra, eu costumava ler um livro a cada dois dias. Grande parte dessa leitura se deve ao fato de que cursei Letras. Conquistei meu mestrado há um ano e agora estou desenvolvendo um projeto de doutorado centrado nas formas de representação do infinito. A ideia é colher respostas em Murakami e Kafka, tirando proveito também de análises sobre algumas imagens de Escher – o que minha orientadora acredita ser impossível conciliar com análises literárias. A pesquisa parte da hipótese de que o infinito é uma invenção humana, um atalho inconclusivo figurado pelo cérebro para findar a sua incapacidade de compreender grandes e ínfimas extensões temporais e espaciais. Eu poderia divagar sobre o que venho pensando para essa tese, afinal, como todo pesquisador, tenho um vício incurável por falar e falar sem chegar logo ao que quero dizer, então ficarei calado quanto a isso. Resolvi escrever-lhe por razões mais importantes. E, para ser sincero, o que farei ou não sobre a hipótese da tese… nem eu ainda sei dizer direito. A ideia nasceu de um instante imaginativo há alguns anos, quando li Sono, um conto de Murakami, e me senti orbitando uma única imagem durante toda a leitura. O conflito da personagem que torna-se permanentemente incapaz de dormir fez-me lembrar da gravura intitulada “Olho”, de Escher. Dali ao fim da leitura, não consegui mais deixar de ver aquele olho em cada palavra. Desde então, sempre ao ler as palavras do escritor japonês, lembro-me de outras gravuras de Escher. O fato é que precisei contar isso tudo por causa da minha nova estante. Com ela ocupei uma parede inteira do meu escritório, de modo que o transformei na minha biblioteca particular, cuja única parede livre, em frente à estante, adornei com uma enorme tela do Olho de Escher.
Antes dessa estante, eu poderia olhar para qualquer direção e encontrar pilhas de livros espalhados por toda a casa, dentro da sapateira, debaixo da cama, ocupando gavetas e disputando a tarefa de decoração com objetos da sala – pois em um canto eu empilhara uns tantos livros de tal modo que, atingindo sinuosas alturas, pareciam três estalagmites de papel criadas pela artista espanhola Alicia Martin em um de seus dias mais sóbrios. Pela casa eu imaginava ter uma soma aproximada de mais de mil livros. Quando precisei saber a medida das prateleiras, contei um por um e descobri serem quatrocentos e dezessete. Para ordená-los, separei-os por tema, pois percebi que se os arrumasse por ordem alfabética de autores forçaria parcerias no mínimo irônicas. Não me pareceu correto misturar línguas distintas, nem colocar Murakami ao lado de Maomé. Como em qualquer biblioteca, utilizei uma prateleira para dispor apenas livros de religião, outras para ciência, literatura e assim por diante.
Na noite em que guardei todos os livros, sentei-me orgulhoso no sofá diante da estante e dediquei uma taça de vinho à ordem que eu finalmente conseguira dar a tudo. Ainda estava fresca na memória a disposição de cada uma das prateleiras quando, no dia seguinte, voltei à biblioteca para admirar os livros e dei-me conta de um vazio na terceira prateleira, de baixo para cima, ao centro da estante, onde eu havia enfileirado apenas os livros que eu ainda não lera. Eu tinha plena certeza de que não restara nenhum espaço ali na noite anterior, muito menos uma lacuna de três ou quatro centímetros que agora separava O Muro de A Imaginação, este último pendendo para a esquerda, apoiado no outro. Não me lembrava de ter retirado nenhum dali para uma leitura antes de dormir, mas mesmo assim comecei a procurá-lo. Nada havia dentro das caixas que eu usara para transportá-los, nem em meu quarto, ou no banheiro, tampouco na sapateira ou debaixo da cama. Fui inspecionar também o andar debaixo, embora eu não tivesse descido depois que fui buscar o vinho. Nada na sala e na cozinha.
Estava faminto, então tive de parar e dar vez ao café da manhã. Eu haveria de me lembrar onde pusera o livro depois de aquietar o estômago.
Enquanto comia o cereal com as frutas vermelhas de todas as manhãs, tive a impressão de que havia sonhado algo importante, mas não conseguia resgatar nenhuma imagem; sentia apenas que envolvera amigos de faculdade que eu não via há muito tempo. Fui andando para os fundos, ainda comendo, e abri a porta para o quintal, onde pus-me sob o sol, dando colheradas, aquecendo o corpo e conferindo as poucas plantas do canteiro que eu chamava de meu jardim. Pousei a tigela do cereal num canto e reguei as plantas. Foi quando, não sei ao certo por onde, ele veio. O gato siamês que eu suspeitava ser de algum vizinho.
Cumprimentei-o, mas ele só quis saber de dirigir-se até a tigela, onde ainda restava um pouco de leite. Ele invadia minha casa religiosamente, nunca em outro horário que não aquele, esgueirava-se pelos vasos de plantas e ia deitar-se majestoso sobre as placas de ardósia que eu comprara para uma reforma no quintal, que acabara nunca realizando. Antes de se deitar, ele chegou à tigela, pareceu cheirá-la para beber, mas, desgostoso, o que fez foi dar um tapa preciso, de baixo para cima, fazendo a tigela virar e derramar o leite. Satisfeito com a sujeira, deitou-se na ardósia e começou o transe absoluto que era olhar para mim. Fitava-me cheio de argumentos sobre algum tópico que eu adoraria saber qual era, pois, como de costume, tamanha era a reprovação em seu olhar que só me restava concluir que ele tinha muitas razões para me julgar e, mais do que isso, que eu haveria de me envergonhar e tomar conhecimento imediato de uma falha minha, acatando seu julgamento sem relutar. No entanto, nessa manhã, seu olhar crítico não durou muito, parecia ansioso, preocupado em resolver alguma questão que era tanto minha quanto sua; balançava o rabo não cadenciadamente, mas em arroubos inadvertidos, como se lutasse com os segundos até o momento em que não aguentaria mais o silêncio e me diria aquilo que eu precisava ouvir.
“Bom dia para você também, Alfred.”
Eu lhe dera esse nome e ele sempre aparentou gostar, miando ao ouví-lo, mas dessa vez permaneceu quieto.
“Alfred?” Nada. “Bem, hoje eu gostaria de lhe pedir que fosse mais direto ao assunto. Quero usar meu primeiro dia de folga para alguma coisa mais prazerosa do que ser medido por suas ortodoxias.”
Eu puxei uma cadeira e me sentei bem em frente a ele. Ficamos alguns minutos nos observando, até eu perceber que podia fazer algo na sua companhia. Fui buscar meu caderno na sala e anotei ali algumas ideias sobre minha linha de raciocínio para a tese. Eu não havia escrito muito, quando Alfred miou baixinho.
“Não estou te ignorando. Peguei isso aqui justamente para anotar tudo o que você tiver pra hoje”. Ele gostou dessa ideia, pois mexeu o rabo com calma e se ajeitou mais confortavelmente na ardósia, como se dissesse: “Pois comecemos. O que precisa ficar bem claro, de uma vez por todas, é o seguinte…”
Mas é claro que não falou nada. Ele não seria capaz de começar uma frase indo tão direto ao ponto. Embora lacônico, sua oratória haveria de ser tão verbosa quanto os rascunhos de textos acadêmicos e literários que eu frequentemente lia para ele, e que certamente o influenciavam.
Então, de repente, lembrei-me que antes de tudo aquilo eu estava procurando pelo livro que sumira da estante. Voltei pra dentro de casa.
Comecei a cogitar a possibilidade de ter me enganado em achar que a prateleira ficara cheia. Decidi contar todos os livros da estante. Contei duas vezes. Eram quatrocentos e dezesseis. Um a menos.
Agachei-me para arrumar os livros e, como se ao me aproximar do problema eu pudesse entendê-lo melhor, olhei entre eles, onde o bendito estivera até a noite anterior. Caí para trás, tamanho o susto que levei. Recoloquei-me de cócoras e tornei a olhar o vão, para ter certeza de que vira o que vi.
Continua...

Essas foram as primeiras 1370 palavras. Gostaram da leitura? Adquiram o conto completo no link abaixo:


Alfred e a Estante (conto completo, disponível na Amazon)

http://www.amazon.com.br/Alfred-Estante-Leon-Idris-Azevedo-ebook/dp/B012YMXQCU



segunda-feira, 3 de agosto de 2015

"Conta-me", disse o Rouxinol. "Não tenho medo."

Eu tinha doze anos, estava passando as férias no Rio de Janeiro, na casa do meu pai, quando descobri que eu podia inventar um mundo usando apenas 26 letras. Escrever eu já escrevia, o colégio incentivava isso de maneiras diversas; redações sobre as férias, poemelhos (poemas pentelhos) de presente para o dia das mães ou dos pais. Mas, até aquelas férias no Rio de Janeiro, textos não me pareciam produtos realmente fascinantes. Eu enxergava a escrita como algo apenas confessional, sentimental, como a poesia que eu não entendia, ou como algo sonoramente sagaz, como os versos fáceis e lúdicos da Casa engraçada e sem teto do Poetinha, que decorávamos para encenar numa apresentação para os pais. O fato é, eu ainda não entendia o que eram as palavras. Não que faltasse contato com a literatura. Minha mãe me colocava para dormir com contos, como "O Rouxinol e a Rosa", de Oscar Wilde. E eu podia ver as frases ali no papel, guiando os olhos antes da boca que narrava. Mas esse conto me atacava o peito como uma confissão do escritor, as palavras não pareciam inventadas, vinham direto de uma experiência real e, por isso, eu sentia uma enorme tristeza ao imaginar uma rosa branca ganhando cor pela dolorosa transfusão de sangue do coração de um pássaro a doar-se a um homem apaixonado. Minha sobrinha, três anos mais nova do que eu, ouvia a mesma história, mas era impactada de um jeito diferente. Ela não chorava e estranhava eu sofrer tanto com aquilo (eu pedia que o conto fosse relido em diversas noites).
"Mas é tão triste, Thai", eu lhe dizia, como uma justificativa para ouvirmos a história mais uma vez.
"Se queres uma rosa vermelha", disse a Roseira,
"tens de criá-la com tua música ao luar, e tingi-la
com o sangue de teu coração. Tens de cantar
para mim apertando o peito contra um espinho.
A noite inteira tens de cantar para mim,
até que o espinho perfure teu coração e teu
sangue penetre em minhas veias, e se torne meu."
Certa noite, ela me respondeu com uma informação que não me passava pela cabeça. Sobre a transfusão de sangue, ela simplesmente disse: "Não dá pra fazer isso."
Era o equivalente a "isso é só um filme", frase que o nosso cérebro é capaz de aplicar automaticamente ao sairmos de uma sala de cinema e voltarmos à realidade. É claro que a emoção, por natureza, desrespeita o saber e sofremos mesmo quando reconhecemos a ficção, mas eu sofria sem reconhecer isso, sem saber que as palavras estavam me enganando. Em algumas noites, minha mãe inventava histórias. Lembro de uma que me tocava profundamente, a do pinheiro de Natal, a história de um tronco de árvore arrancado e posto à venda com muitos outros troncos. Não me lembro exatamente de todo o percurso da árvore-protagonista, mas sei que ela tinha anseios de ser levada para uma casa quente e ser enfeitada com esmero, para viver a alegria da família. Quando esse sonho parecia prestes a virar realidade, o clímax vinha pela derrocada. O Natal haveria de acabar e nem todos os pinheiros seriam comprados. O pobre pinheiro não contava com isso, pois não entendia a mente humana. Ele voltava ao frio, sem suas raízes, sem enfeites.
Se o pinheiro não entendia a mente humana, eu não entendia que pinheiros não têm mente.

Homem carrega pinheiro cortado de floresta
de Svetlya Rochsha, 
para montar sua árvore de Natal.
Um marco dessa mesma ingenuidade foi quando minha sobrinha, outra vez ela, sempre antes de mim, sagaz e cética, viu-se na necessidade de me revelar que os presentes de Natal não vinham do Polo Norte, mas das portas mais altas do armário lá de casa. Isso aconteceu pouco antes de eu viajar para passar aquelas férias que mencionei lá em cima. Foi o meu primeiro Natal lúcido. E talvez por isso eu tenha experimentado tudo diferente.
Fomos ao New York City Center da Barra da Tijuca naquela noite, eu, minha irmã e meu pai. Havia estreado o primeiro Senhor dos Anéis e, ao passarmos pela livraria, meu pai me disse, apontando para a vitrine, que o filme era baseado num dos livros expostos. Não me lembro se demonstrei interesse em lê-lo ou se ele insistiu. Mas compramos A Sociedade do Anel e utilizei as poucas horas que tínhamos antes do filme para, durante o jantar, espiar as primeiras páginas. À meia-luz da sala de cinema, eu ainda percorria os olhos lentamente pelo onzentésimo aniversário de Bilbo; as primeiras cenas que Peter Jackson fez da festa no Condado foram as únicas que pude reconhecer do que já tinha lido no livro. Mas isso valeu por tudo. Foi o suficiente para que o filme parecesse o truque mais fabuloso de um mágico, pois uma realidade estava diante dos meus olhos e a outra, em palavras, nas minhas mãos, com o rosto do responsável pela magia ilustrado na contra capa.

O escritor que há pouco começara a me contar uma história claramente irreal, não estava ali para ver as páginas levadas à tela do cinema, mas suas palavras estavam. A palavra, portanto, viveria mais do que o homem. Esse era o seu segredo, sua maior graça e valor. Elas tornam a ficção mais do que real. Era possível, sim, a transfusão pelos espinhos de uma rosa. 
Dá pra fazer isso, Thai!

Eu finalmente começava a entender a palavra, porque descobria o escritor.

Ao voltar pra casa, pedi ao meu pai para usar o seu laptop do trabalho, dizendo que eu queria escrever. Ele abriu o Word para mim e eu fiquei um tempo indeterminado olhando para a tela em branco, e para o teclado, percebendo pela primeira vez que ali, entre o apertar de cada tecla, podia estar um mundo tão imaginativo quanto o de Tolkien. Afinal, o branco do papel ou da tela é sempre o mesmo para qualquer primeira palavra, de qualquer escritor. Tudo dependeria de qual eu escolhesse primeiro, e, só então, de qual palavra viria depois. Uma por vez. Sempre mais uma, apenas. Senti muito medo.

"Se queres uma rosa vermelha", disse a Roseira,
"tens de criá-la com tua música ao luar,
e tingi-la com o sangue do teu coração."


J.R.R. Tolkien, meu primeiro mestre