Dizem que a Itália é romântica. O Woody Allen, por exemplo, me
prometeu que eu encontraria o amor na capital, e eu sempre acreditei no que ele me diz. Tive de sair de Arezzo na Toscana e me mudar para Roma por razões
profissionais, mas eis que, na capital, senti como se eu estivesse no centro de
São Paulo, ali perto do Arouche, e pior, durante alguma Virada Cultural. Gosto
do evento, não me entenda mal. Estive na edição de 2013 e sobrevivi às facas e balas perdidas. Mas aqui encontrei o mesmo amontoado de pessoas
andando de um lado para o outro como se em procissão. E também os numerosos
vendedores de badulaques indesejáveis estão lá e aqui. Aqui na Itália, eles são
os bravos imigrantes ilegais, que atravessaram o mar mediterrâneo e se jogaram
com a cara e a coragem em becos e praças para vender bolsas, rosas quase
murchas e uns trocinhos brilhantes com cara de geleca que voam bem alto de um
jeito que seria até belo se, depois de voarem, voltassem para a nossa mão. Um
dia, veja só, tentei chegar perto de uma fonte famosa pra jogar uma moedinha,
mas tive que jogar de longe, porque os turistas se aglutinavam ao redor dela e dali
não sairiam nem por um decreto do Papa. E isso é assim todo santo dia. Te
garanto que eu consigo uma foto melhor nos chafarizes da Praça da República. O
Criolo só acha que não existe amor em SP porque não veio pra cá. Se nas ruas
daqui ao menos tocasse o mesmo repertório do palco Julio Prestes, Caetano Veloso
e Fabio Jr. fariam as turistas lembrarem do amor e a Daniela Mercury tremularia
as rachaduras do Coliseu, enquanto os novos fiéis do axé dançariam apertadinhos
nos corredores em que o Russell Crowe afiara sua espada. Mesmo assim, porém, eu
me apaixonei em Roma.
É claro que meus olhos iriam parar em alguém, uma hora
ou outra. Isso acontece todo dia, como já me acontecia na linha vermelha do
metro de SP, onde me apaixono por pernas de salto alto toda vez que subo as
escadas. Eu tenho uma queda por paixões que me levam a lugar nenhum,
principalmente aquelas em que a contraparte do negócio nem sequer sabe o meu
nome. Mas com ela foi diferente. Foi na Gelateria il Cantagalli, uma sorveteria do lado da Fontana di Trevi. Ela trabalha lá. No primeiro dia, pedi
que escolhesse o sorvete por mim. Tive só tempo de me apaixonar por seus
olhos, verdes quase da cor do sorvete de menta.
(Continua...)
"Gelateria il Cantagalli" é um prelúdio do conto O Leão de Bronze, enviado a um
concurso em andamento.
concurso em andamento.
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