segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Gelateria il Cantagalli

Dizem que a Itália é romântica. O Woody Allen, por exemplo, me prometeu que eu encontraria o amor na capital, e eu sempre acreditei no que ele me diz. Tive de sair de Arezzo na Toscana e me mudar para Roma por razões profissionais, mas eis que, na capital, senti como se eu estivesse no centro de São Paulo, ali perto do Arouche, e pior, durante alguma Virada Cultural. Gosto do evento, não me entenda mal. Estive na edição de 2013 e sobrevivi às facas e balas perdidas. Mas aqui encontrei o mesmo amontoado de pessoas andando de um lado para o outro como se em procissão. E também os numerosos vendedores de badulaques indesejáveis estão lá e aqui. Aqui na Itália, eles são os bravos imigrantes ilegais, que atravessaram o mar mediterrâneo e se jogaram com a cara e a coragem em becos e praças para vender bolsas, rosas quase murchas e uns trocinhos brilhantes com cara de geleca que voam bem alto de um jeito que seria até belo se, depois de voarem, voltassem para a nossa mão. Um dia, veja só, tentei chegar perto de uma fonte famosa pra jogar uma moedinha, mas tive que jogar de longe, porque os turistas se aglutinavam ao redor dela e dali não sairiam nem por um decreto do Papa. E isso é assim todo santo dia. Te garanto que eu consigo uma foto melhor nos chafarizes da Praça da República. O Criolo só acha que não existe amor em SP porque não veio pra cá. Se nas ruas daqui ao menos tocasse o mesmo repertório do palco Julio Prestes, Caetano Veloso e Fabio Jr. fariam as turistas lembrarem do amor e a Daniela Mercury tremularia as rachaduras do Coliseu, enquanto os novos fiéis do axé dançariam apertadinhos nos corredores em que o Russell Crowe afiara sua espada. Mesmo assim, porém, eu me apaixonei em Roma.
É claro que meus olhos iriam parar em alguém, uma hora ou outra. Isso acontece todo dia, como já me acontecia na linha vermelha do metro de SP, onde me apaixono por pernas de salto alto toda vez que subo as escadas. Eu tenho uma queda por paixões que me levam a lugar nenhum, principalmente aquelas em que a contraparte do negócio nem sequer sabe o meu nome. Mas com ela foi diferente. Foi na Gelateria il Cantagalli, uma sorveteria do lado da Fontana di Trevi. Ela trabalha lá. No primeiro dia, pedi que escolhesse o sorvete por mim. Tive só tempo de me apaixonar por seus olhos, verdes quase da cor do sorvete de menta.
(Continua...)

"Gelateria il Cantagalli" é um prelúdio do conto O Leão de Bronzeenviado a um
concurso em andamento
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