Quando
a glória de nossos pais é cantada com versos de temor, quando suas dores lhes deram
a luta e a redenção, é quando nos afiamos com uma nociva ironia:
aprendemos a temer determinada coisa e a desejá-la ao mesmo tempo.
Se
toda história cumpre seu papel quando nos coloca nos passos e nos percalços dos
heróis, como então aprender o valor da reverência sem enveredarmos agrilhoados pelos
perigosos terrenos da encenação?
Este
é o fio inextensível que nos mantém a todos falsamente caídos, suspensos, pêndulos,
certos de mil liberdades. Só vivemos quando rodamos, e rondamos, porém, um
centro à cuja face nunca levantamos os olhos; divisamos o que parece distante,
fora de foco, mas que se trata apenas do chão, tão perto. Pontos da
superfície em que mal tocamos são passageiros, como outros tantos pontos que ficam
para trás antes que possamos percebê-los em detalhes, pontos cheios de
particularidades que tornamos a não notar quando os reencontramos. Não temos
certeza se rodamos à esquerda ou à direita, não há ar que toque a face e
denuncie a direção a que seguimos. Sonhamos fugas tangenciais, aferimos planos
antigos; às vezes dizemos a nós mesmos, Rompemos o fio!, é quando sentimos a
resistência do ar e cogitamos ter saído enfim por aquela reta tão necessária; juramos
já estar seguindo para longe, quando reabrimos os olhos e nos encontramos de
volta, noutro ponto igual da rota pendular. Seguimos sós aos lugares em que
estivemos, reaproximamos os velhos atos e ecoamos os gritos das dores daqueles
outros que já não abrem a boca.
Aprendemos a temer, não a evitar a tração do desejo.
Desejamos
o que tememos pois é só assim que nos sentimos em luta, numa luta que possamos
chamar de nossa, que pensamos ser legítima.
Mas
de legítima só há a dor que não tememos e não buscamos.
É aquela que rompe o fio quando estamos de olhos abertos.
É aquela que rompe o fio quando estamos de olhos abertos.
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